sexta-feira
19 fevDireito Penal – Suspensão Condicional da Pena – SURSIS.
SURSIS “é a suspensão da execução condicional da pena, por um determinado prazo, mediante certas condições. A expressão origina-se do francês “surseoir” que significa suspender”. [1]
ORIGEM DA SURSIS.
1ª corrente: o instituto nasceu nos EUA, com a criação da Escola Industrial de Reformas.
2ª corrente: o instituto teve origem com o projeto apresentado ao Parlamento francês pelo Senador Berenger. A Bélgica consagrou o instituto em 1888 e a França em 1891.
CONCEITO.
Segundo Aníbal Bruno, “é o ato pelo qual o juiz, condenando o delinquente primário, não perigoso, à pena detentiva de curta duração, suspende a execução da mesma, ficando o sentenciado em liberdade sob determinadas condições.” [2]
Rogério Greco entende que é “verdadeira medida descarcerizadora, a sursis tem por finalidade evitar o aprisionamento daqueles que foram condenados a penas de curta duração, evitando-se, com isso, o convívio promíscuo e estigmatizante do cárcere.” [3]
NATUREZA JURÍDICA.
Há 5 posições principais acerca da natureza jurídica da “sursis”:
1) Instituto de política criminal: trata-se de benefício e, ao mesmo tempo, de modalidade de satisfação da pena. É uma execução mitigada da pena.
2) Direito público subjetivo do condenado: consubstancia-se em benefício penal assegurado ao réu, se preenchidos os requisitos legais. (Corrente majoritária e posição do STF).
3) Pena: trata-se de espécie de pena, embora não prevista no artigo 32 do CP.
4) Condição resolutória: é condição, porque a pena fica subordinada a um acontecimento futuro e incerto; é resolutiva, porque a indulgência vigorando, desde logo, deixa, portanto, de existir se a cláusula imposta não for cumprida de acordo com o estabelecido.
5) Substitutivo penal: o “sursis” é um substitutivo ou, para alguns, um sucedâneo da pena (algo que vai substituir a pena privativa de liberdade).
SISTEMAS.
- Sistema anglo-americano ou “probation system”: o Juiz, sem aplicar a pena, reconhece a responsabilidade penal do réu, submetendo-lhe a um período de prova, no qual, em liberdade, deve ele comportar-se adequadamente.
- Sistema do “probation of first offenders act”: o Juiz não reconhece a culpabilidade do réu, mas determina a suspensão da ação penal durante o período de prova.
Obs.: Foi o sistema acolhido no tocante à suspensão condicional do processo prevista no artigo 89 da Lei nº 9.099/95.
Lei 9.099/95. Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena pelo acusado e seu defensor, na presença do Juiz, este, recebendo a denúncia, poderá suspender o processo, submetendo o acusado a período de prova, sob as seguintes condições:
I – reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;
II – proibição de frequentar determinados lugares;
III – proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do Juiz;
IV – comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades.
§2º O Juiz poderá especificar outras condições a que fica subordinada a suspensão, desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado.
§3º A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser processado por outro crime ou não efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano.
§4º A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser processado, no curso do prazo, por contravenção, ou descumprir qualquer outra condição imposta.
§5º Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade.
§6º Não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão do processo.
§7º Se o acusado não aceitar a proposta prevista neste artigo, o processo prosseguirá em seus ulteriores termos.
- Sistema franco-belga: o réu é processado e, com a condenação, a ele é atribuída uma pena privativa de liberdade na sentença. Todavia, preenchidos os requisitos legais, o Juiz suspende a execução da pena por determinado período, dentro do qual o acusado deve manter bom comportamento e cumprir as condições impostas. É o sistema adotado em relação à suspensão condicional da pena no Código Penal.
PREVISÃO LEGAL.
A sursis está
prevista no capítulo IV do Código Penal dos artigos 77 a 82.
SURSIS – LIRAVAMENTEO CONDICIONAL – CONCURSO DE PESSOAS – CONCURSO DE CRIMES – PRESCRIÇÃO (COMPLEMENTAR TEORIA DO CRIME) – ERROS NO DIREITO PENAL.
Requisitos (tema cobrado em várias provas objetivas):
Art. 77 – A execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos, poderá ser suspensa, por 2 (dois) a 4 (quatro) anos, desde que:
I – o condenado não seja reincidente em crime doloso;
II – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias autorizem a concessão do benefício;
III -Não seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44 deste Código.
Requisitos objetivos:
- Natureza da Pena: a pena deve ser privativa de liberdade.
Art. 80. A suspensão não se estende às penas restritivas de direitos nem à multa.
Obs – O “sursis” não se aplica às medidas de segurança.
- Quantidade de pena privativa de liberdade: Em regra, a pena concreta aplicada na sentença não pode ser superior a dois anos.
Art. 77
(…)
§2º – A execução da pena privativa de liberdade, não superior a quatro anos, poderá ser suspensa, por quatro a seis anos, desde que o condenado seja maior de setenta anos de idade, ou razões de saúde justifiquem a suspensão.
c) Não tenha sido a pena privativa de liberdade substituída por restritiva de direitos.
Requisitos subjetivos
- Réu não reincidente em crime doloso.
Obs 1- A reincidência em crime culposo não impede a suspensão condicional da pena. A condenação anterior por contravenção penal não impede a concessão do benefício.
Art 77, §1º- A condenação anterior a pena de multa não impede a concessão do benefício.
Logo, o reincidente em crime doloso cuja condenação anterior tenha sido exclusivamente à pena de multa pode ser beneficiado com a suspensão condicional da pena.
- A culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias autorizem a concessão do benefício.
Obs – A suspensão condicional da pena é subsidiária em relação à substituição por restritivas de direitos.
Art. 59 – O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime:
I – as penas aplicáveis dentre as cominadas
II – a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos;(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
III – o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade;(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
IV – a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível.
Atenção! Prevalece no STJ que a existência de inquéritos, ações penais em curso ou processo em que foi aceita a proposta de transação penal, por si só, não autoriza o indeferimento da suspensão condicional da pena. (REsp 1262591/MG. Data do Julgamento: 07/03/2013) |
Espécies de “sursis”
a) “sursis” simples: aplica-se aos casos em que o condenado não reparou o dano injustificadamente ou quando as circunstâncias do artigo 59 do CP não são favoráveis. No primeiro ano do prazo, deverá o condenado prestar serviços à comunidade ou submeter-se à limitação de fim de semana (art. 78, § 1º, do CP).
Art. 78 – Durante o prazo da suspensão, o condenado ficará sujeito à observação e ao cumprimento das condições estabelecidas pelo juiz.
(…)
§ 1º – No primeiro ano do prazo, deverá o condenado prestar serviços à comunidade (art. 46) ou submeter-se à limitação de fim de semana (art. 48).
b) “sursis” especial: é aplicável quando o condenado reparou o dano, salvo impossibilidade de fazê-lo, e as circunstâncias judiciais do artigo 59 do CP são inteiramente favoráveis. Nesse caso, o condenado não precisa prestar serviços à comunidade nem submeter-se à limitação de fim de semana, podendo o Juiz substituir tais exigências por outras condições cumulativas:
a) proibição de frequentar determinados lugares;
b) proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do juiz;
c) comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades.
Obs-
No “sursis” especial, a pena privativa de liberdade também não pode ultrapassar
dois anos e o período de prova será entre dois e quatro anos.
[1] RIBEIRO, Isaac de Luna. Direito Penal II – Teoria da Pena. Programa Esquematizado. 2013, p. 56.
[2] BRUNO, Aníbal. Direito Penal – Parte Geral. Introdução. Norma Penal. Rio de Janeiro, Forense, 2005.
[3] GRECO, Rogério. Código Penal Comentado. 10ª edição. Ed. Impetus. Rio de Janeiro, 2016, p. 243.
Comentários